concentração de renda e industria no Brasil

Concentração de renda e desenvolvimento industrial no Brasil

Revisto em 25/04/2019

 

 

Prof. Alexandre Lobo

 

Os modernistas de 1922 acreditavam que o problema do Brasil era a falta de industrialização e a vida rural. Bastaria um processo modernização que o país cumpriria seu destino de ser uma grande nação. Passados mais de oitenta anos, a modernidade chegou mas os problemas permaneceram, metamorfosearam-se ou multiplicaram-se. Entre estes problemas estão a miséria e a concentração de renda. Concentração de renda é quando a maior parte da riqueza de um país está concentrada nas mãos de poucos enquanto que a maior parte da população detém a menor parcela de riqueza.

A concentração de renda não é só um problema nacional, ao contrário, é mundial, não só pela questão da distribuição de riquezas entre países dito pobres e países dito ricos, mas mesmo entre aqueles que eram conhecidos como parte do primeiro mundo, encontraremos zonas de pobreza. Nos EUA, que são considerados os paladinos da democracia, temos perto de 10% da população sem nenhum direito por serem imigrantes ilegais, oriundos em maioria do México e vivendo abaixo da linha de pobreza. Na Europa, o número de imigrantes chegava a 25 milhões no início do século XXI. Apenas 358 pessoas, segundo relatório da ONU em 1996, detém 45% da riqueza mundial. Aqui no Brasil era esperado que o crescimento econômico pudesse diminuir as desigualdades e a concentração de renda, mas não foi o que ocorreu. O PIB – Produto Interno Bruto : a riqueza interna produzida no país - brasileiro em 1900 era de um bilhão para uma população de 17,4 milhões, em 2000, com o PIB de 1 trilhão o Brasil tinha uma população de 169,6 milhões de habitantes. Já a concentração de renda, em 1960 consistia em 10% dos mais ricos terem uma renda 34 vezes superior a dos 10% mais pobres. Em 2000 a diferença havia subido para 60 vezes mais.

Nossa modernização não melhorou a condição de vida da maior parte da população. A desigualdade social brasileira é também um fato histórico. Iniciou-se desde o início do período colonial. Uma sociedade baseada nos extremos onde uma minoria de origem europeia era detentora de grandes extensões de terras e uma maioria, que compunha a mão de obra, privada até mesmo de si, os escravos eram entendidos como propriedade dos senhores de engenho. Mesmo a abolição não trouxe uma inclusão, ao contrário, com a incorporação da mão de obra imigrante, foi possível formar um exército industrial de reserva que permitia a exploração excessiva desta nova mão de obra, o assalariado, como também jogar na marginalidade o liberto.

Um outro momento histórico constitui na passagem do Brasil rural para o Brasil urbano, nos anos 60, quando a modernidade no campo significou a troca de camponeses por máquinas agrícolas resultando no crescimento das favelas, retratado no filme Cidade de Deus. Entendendo a mão-de-obra como mais uma mercadoria, pode-se sujeitá-la a uma antiga lei da economia: quanto maior a oferta e menor a procura, menor o preço. Assim, como a industrialização não foi capaz de absorver toda a mão-de-obra disponível e esta crescendo na medida em que ocorria o êxodo rural, os salários eram mantidos baixo.

Karl Marx no século XIX já falava em exército industrial de reserva: operários desempregados mas potencialmente empregáveis. Como o salário representa o pagamento pela construção social da mão de obra, ou melhor, o salário corresponde ao valor de troca da capacidade de trabalho em plano social, o valor do salário individual é resultado da diluição deste valor de troca entre a massa de desempregados. O valor de troca básico de uma mão de obra seria o correspondente a produção do próprio trabalhador, ou seja, de sua alimentação, moradia, estudo e vestuário. Acontece então que o salário é correspondente não ao trabalhador individual mas ao social, por isso é possível manter os salários abaixo do custo necessário de um trabalhador se houver um grande exército industrial de reserva.

Todo este quadro de exército industrial de reserva era correspondente a época de Marx. Hoje, de certa forma, o quadro é um pouco mais assustador. Na Europa, trabalhadores que nos anos 70 reivindicavam melhores salários agora reivindicam a permanência do emprego. Aqui no Brasil há um grupo que nem mesmo chega a exército industrial de reserva, são o que o ex-presidente e sociólogo Fernando Henrique Cardoso chamou de “inempregáveis”. Em um mercado de trabalho extremamente competitivo e cada vez mais exigente devido ao avanço tecnológico e a propagação da informática, uma grande parte da população estaria mesmo fora da possibilidade de um emprego formal por não ter a mínima qualificação.  É a própria lógica do capitalismo – a busca de lucro – que produz a miséria e o desemprego na medida em que a necessidade de velocidade da produção industrial levou a busca do aperfeiçoamento dos bens de produção. Máquinas cada vez mais rápidas e mais precisas eliminam postos de trabalho além de exigirem mão de obra especializada.

Nossa modernidade chegou para poucos criando verdadeiros nichos de primeiro mundo em oceanos de terceiro mundo. A economia brasileira está entre as mais fortes do mundo e pelo discurso oficial estamos no clube dos países emergentes...