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Prof. M.: Alexandre Lobo

Platão, Aristóteles e a poesia de Homero

Do período Homérico da História da Grécia Antiga temos acesso ao conhecimento por meio das poesias épicas Ilíada e Odisséia1, atribuídas a Homero. Aristóteles e Platão têm visões distintas sobre este gênero. O primeiro defende ser o gênero a que esta pertence importante por servir como exemplar, e, por isso, universal. Platão, por sua vez, expulsou os poetas em seu mundo perfeito. Mas, para entender as respectivas posições, é necessário passar pela filosofia do conhecimento desenvolvida por eles. Platão, partidário do idealismo e herdeiro de Parmênides, para o qual a origem de tudo era o “ser”, entendia o conhecimento verdadeiro, a episteme, como o que fosse capaz de aproximar-se do mundo das idéias. Aristóteles, por sua vez, não é tão idealista como seu mestre, ao contrário, entende o conhecimento como uma construção que se inicia pela sensação, como diria um materialista, para depois se transformar em idéia.

Aristóteles e Platão entendem a arte como uma imitação da realidade. Apenas a filosofia teria a capacidade de atingir o real; o filósofo, não o artista, podeira contribuir para a construção de um conhecimento verdadeiro. Em Platão, o filósofo é aquele que saiu da caverna, não foi iludido pelo sensorial ao perceber apenas as sobras dos seres verdadeiros. A verdade platônica estaria em um mundo primordial das idéias perfeitas. Todos e tudo teria origem neste mundo. É na passagem do mundo das idéias, espiritual, para o corpóreo, o mundo da vida, que esqueceríamos tudo. Neste sentido que aprender é recordar, recordar as coisas perfeitas do mundo perfeito das idéias.

O processo de conhecimento no platonismo se dá pela atividade mental, pelo pensamento racional. As sensações e emoções fornecem a doxa, o conhecimento falso, baseado na aparência. No “Mito da Caverna”, temos um exemplo da idéia platônica. Os sujeitos presos na caverna têm a construção do conhecimento por meio do que enxergam em uma parede. É o sensorial, o olhar a fonte do saber. Mas eles estão longe do que realmente são as coisas fora da caverna, destas, só são capazes de conhecer suas sombras.

A poesia, para Platão, não traria, portanto, nenhuma aproximação com o mundo das idéias. Se fosse imitação de uma realidade, já seria imperfeita. O efeito catártico, por sua vez, levaria o sujeito a pensar tratar-se de algo verdadeiro. O problema é mais grave na visão platônica. Existindo três graus de conhecimento, a arte estaria no último. O primeiro é o mundo da episteme, o mundo perfeito das idéias perfeitas. O segundo, o mundo do sensorial, da imitação das coisas perfeitas. A mesa, a casa ou a roupa, particulares, imperfeitas em relação à idéia perfeita e primordial de cada uma respectivamente, seriam apenas imitações destas. A arte, por sua vez, ao imitar uma casa ou uma árvore particular, seria então uma imitação de algo que já era uma imitação.

Homero, para Platão, em sua obra, criou imitações de imitações, fugiu completamente da episteme, construiu doxas. E o pior é que pelo efeito catártico poderia induzir outros a assimilarem uma imitação como se fosse uma verdade. É por isso que teria que ser expulso da República platônica.

Aristóteles não é radical partidário nem do idealismo e nem do materialismo – doutrina que entende a existência somente das coisas materiais e o conhecimento construído apenas pelos sentidos – busca uma solução intermediária. Para ele, o conhecimento é resultado de um processo que inicia na percepção do mundo externo à formulação de idéias. Em um primeiro momento é o contato da mente com a realidade pelos sentidos, este contato formaria uma imagem que ficaria na memória e se transformaria em um idéia.

Na Arte Poética, Aristóteles afirma que o conhecimento é construído pela imitação, as crianças vão aprendendo imitando e que isto seria natural. Neste aspecto, a arte, enquanto imitação, não traria malefícios ao conhecimento, ao contrário, teria caráter didático. Se em uma tragédia o desfecho catastrófico ocorrer por algum erro cometido pelos personagens, a arte terá cumprido seu papel educativo. É o caráter exemplar que faz da arte universal, portanto, não retratando uma particularidade, mas ao contrário, universalizando valores ao exemplificar situações ou condições que poderiam ser vividas por qualquer um.

A condenação de Homero por Platão não tem sentido na visão de Aristóteles, pois este não é defensor de um mundo das idéias primordiais. Não há uma enganação cartática ou um mascaramento da realidade. Como exemplares, mas não como mostra da realidade em si, é que teriam valor Ilíada e Odisséia.

Platão e Aristóteles partem de pressupostos distintos para a construção do conhecimento e são esses que fazem com que tenham visões distintas sobre o papel da arte.

Bibliografia:

ARISTÓTELES, Arte Retórica e Arte Poética. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.

PLATÃO, A República. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d.

PLATÃO, Górgias. In: http://br.egroups.com/group/acropolis/

1Embora o período Homérico seja caracterizado pelo abandono do uso da escrita após a invasão dos dórios, a tradição oral dos aedos – poetas itinerantes - manteve vivo os mitos que dariam origem a Ilíada e Odisséia.