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Esquerda e Diretia

 

WEBHUMANAS

Prof. Me Alexandre Lobo

Esquerda e direita.

Esquerda e direita fazem parte do vocabulário político contemporâneo, mas o significado é diverso e controverso. Há os que dizem que não fazem mais sentido, ao mesmo tempo em que candidatos nacionalistas extremados são identificados com a direita, já candidatos com forte apelo popular e defensores de políticas socias sejam identificados com a esquerda. Mas, fugindo do senso comum, é na filosofia política e na ciência política, politologia ou sociologia política, que vamos encontrar uma maior precisão do termo.

Filosofia política é aquela filosofia preocupada em entender o fundamento das organizações de poder entre as sociedades e também projetar novos modelos conhecidos como utopias. Utopia, a princípio, significa lugar nenhum, mas esse lugar nenhum pode ser entendido apenas como em momento presente, ou seja, a utopia, embora não exista ainda, pode vir a existir no futuro. Nesse sentido, um pensamento utópico é aquele que projeta para o futuro um mundo que ainda não existe. A capacidade de trabalhar com modelos hipotéticos, sem necessidade de comprovação empírica, sem exemplos empíricos concretos, é o que distingue a filosofia política da ciência política.

De certa forma, pode-se dizer que anarquistas, socialistas e comunistas tem algo de utópico, pois projetam para o futuro uma sociedade que ainda não existe, embora a história da humanidade já tenha experimentado alguns regimes políticos ditos socialistas, como o de Cuba de Fidel Castro, da extinta União Soviética ou mesmo a China dita comunista.

A origem do termo está relacionada com a Revolução Francesa por ocasião das Assembléia Nacional e Assembléia Nacional Constituinte, quando girondinos, tidos como direita e defensores dos interesses do grande capital francês, sentavam à direita do Parlamento, e os Jacobinos, burgueses, mas defensores da inclusão de todos os direitos políticos e de políticas públicas, como a educação e a distribuição de alimentos, bem como o controle dos preços, sentavam à esquerda.

No mundo do século XX, a divisão entre esquerda e direita de complexifica. Já no período da segunda Revolução industrial, como o desenvolvimento da sociedade industrial, surgem os socialistas, anarquistas e comunistas, que pertencem ao campo político da esquerda, enquanto o liberalismo, e no pós primeira guerra, o nazismo e o fascismo pertencem ao campo da direita. Embora muitas pessoas confundam esquerda com oposição, não há semelhança alguma. Posição e oposição têm a ver com estar ou não no poder. Posição é quando determinado grupo político está no poder executivo, já a oposição é aquele grupo que não está e não apóia o grupo do executivo. A definição de esquerda ou direita está relacionada com a questão da propriedade privada. Direita é aquela postura política que defende o direito à propriedade privada, seja ela pequena ou grande. Esquerda, por sua vez, é aquela que defende a transformação da propriedade privada em coletiva, principalmente a grande propriedade.

Existem diferenças entre as esquerdas e as direitas. Entre a direita, por exemplo, há a direita nazista que defende um Estado forte e a direita liberal que defende um Estado mínimo. A direita que defende um Estado forte, ditatorial em favor da propriedade privada, é conhecida como a extrema direita. O anarquista, que não defende nenhum estado, é contrário a idéia socialista da necessidade de um Estado forte que possa ser capaz de realizar a coletivização das propriedades. O socialismo foi desenvolvido por Karl Marx e tinha como projeto final o comunismo.

Em Marx, o socialismo seria mesmo uma passagem para o comunismo. No socialismo cada um viveria conforme sua produtividade, ou seja, ganharia o correspondente ao que produziu. O Estado seria governado por uma ditadura do proletariado. Um Estado forte ocupado pelas classes trabalhadoras teria a tarefa de realizar expropriações e distribuições das propriedades. Não haveria propriedades privadas, tudo seria do Estado.

Já no comunismo, o Estado gradualmente perderia razão de ser e seria extinto. À semelhança do anarquismo, o comunismo prevê uma sociedade sem Estado e sem propriedade privada, entretanto, é necessária a passagem pelo socialismo.

Entre a esquerda, podemos dizer que há a esquerda e a extrema esquerda. A esquerda propriamente dita, como já foi afirmado, é aquela que defende a passagem para o socialismo e a distribuição das propriedades. A extrema esquerda é aquela que defende a passagem para o socialismo por meio do uso da força através da luta armada. Segundo a extrema esquerda, não é possível reais transformações sem o emprego da violência para derrubar do poder o atual sistema. São exemplos de extrema esquerda as FARCS (Forças Armadas Revolucionárias) da Colômbia, alguns setores do Movimento dos Sem Terra, MST, e mesmo o movimento Zapatista no México.

Além da extrema esquerda existe a centro-esquerda, que é aquela que acredita na passagem para o socialismo pelas vias democráticas. Essa postura ganhou o nome de social-democracia, pois embora defendendo uma sociedade um pouco mais igualitária, recusava a idéia de revolução, como se fosse possível pelo voto realizar grandes transformações sociais.

Entre a direita e a esquerda está o centro. Na verdade, o centro é indefinido, geralmente os grupos do centro aparecem como esquerda ou direita, mas sempre seguem a postura de suas alianças, ou seja, se tem como aliado a direita, defende as idéias direitista, se tem como aliado a esquerda, segue idéias esquerdistas.

Já na segunda metade do século XXI os termos se complexifica ainda mais um pouco com o surgimento dos chamados movimentos sociais. Temáticas como negritude e feminismo se incorporam ao debate. É possível pensar que essas questões identitárias são assimiladas pelos partidos de esquerda.

Mas, se a questão principal era a relação capital x trabalho, de que forma essas novas temáticas se incorporam?

Para o pensador político italiano, Norberto Bobbio, trata-se da dicotomia igualdade desigualdade. Enquanto que, para a direita, a desigualdade é natural e necessária, é necessário para a permanência da espécie humana, que haja homens e mulheres, e proprietários, coordenadores de trabalho, e executores de trabalho, para a esquerda, a desigualdade, em geral, não se justifica, pois é um produto social, não sendo natural, mas uma construção que se modifica ao decorrer histórico, cabe a luta pela igualdade.

Fonte

BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razões e significados para uma distinção política. São Paulo, UNESP, 2011. 3º edição.

Questões: 1 Cite exemplos de partidos de esquerda e partidos de direita no Brasil. 2 – O que diferencia um anarquista de um socialista? 3 Se um partido de esquerda chegasse ao poder, você acha possível a implantação do socialismo? Explique. 4 – O que é uma revolução?

EDITADO em 07/11/2017