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Classes Sociais

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Prof. Alexandre Lobo

Classes sociais

Classe social é um dos conceitos mais importantes da sociologia. De significado diverso na fala popular, em sociologia tem um sentido preciso. Foi Karl Marx quem deu ao termo sua importância teórica.

Para Marx, trata-se de uma forma de classificar os diferentes grupos sociais conforme a posição que eles ocupam nas formas de produção da sociedade. Sabemos que em sociedade produzimos os nossos meios de vida. Por exemplo, é em sociedade que é produzido o pão, a carne, a roupa e mesmo o dinheiro. Dizer que algo é produzido em sociedade significa dizer que a sua produção indenpende das vontades individuais e depende de grupos de pessoas. Uma roupa, enquanto produção social, depende da produção da linha, da tinta, das máquinas têxteis e das máquinas de costura. E, por traz de cada uma destas máquinas e produções está alguém, seja o trabalhador que trabalha na máquina têxtil ou a costureira, seja o dono da fábrica de tecido ou o da confecção.

Marx via, portando, a sociedade dividida em duas classes básicas, distintas e antagônicas1. São as classes dominantes e as classes dominadas. As classes dominantes seriam aquelas que, através da história, sempre foram proprietárias dos instrumentos de produção. Já as classes dominadas, ao contrário, sempre possuíram a capacidade de trabalho e o principal instrumento de trabalho: o corpo.

Assim, através da história, sempre tivemos classes, de um lado os donos da capacidade de trabalho, escravos, servos e operários, de outro, os donos dos meios de produção: os senhores de escravos, donos de terras e de escravos, os donos das terras e de títulos de nobreza e os donos de fabrica2. Seriam essas classes em luta que marcariam a história. A frase : “A história da humanidade tem sido a história da luta de classes” - É uma frase conhecida de Marx. Mais que nunca, no mundo contemporâneo (de hoje), a luta de classes marcaria presença nos rumos dos acontecimentos através de reivindicação da classe operária organizada em sindicatos. Também no mundo antigo, quando os escravos se rebelavam contra a escravidão, tínhamos luta de classes.

Na sociedade contemporânea, temos então duas classes principais: a classe operária ou o proletariado3 e a classe capitalista, ou burguesa. Mas não existem apenas duas classes. É possível existirem outras classes menos importantes, no sentido histórico, ou mesmo como herança de outros tipos de sociedade. O latifundiário, por exemplo, dono de muitas terras, seria, em uma sociedade industrial, herança da sociedade feudal. Já a sociedade contemporânea produziria o lumpemproletariado e a pequena burguesia. O lumpemproletariado, traidores da classe operária para Marx, seriam os miseráveis, indigentes que se venderiam por esmolas. A pequena burguesia seria composta pelos pequenos empresários, pequenos comerciantes, donos de mercearias ou padaria e não teriam nenhuma postura frente à luta de classes, uma vez em que se achavam no meio da relação entre operários e capitalistas.

O conceito de classes, embora tenha sido desenvolvido por Marx, foi muito utilizado na sociologia, até mesmo por quem não era marxista4. Mas, foi também muito confundido com outra forma de classificar a sociedade: a forma de estratos. O que é conhecido como classe alta, média ou baixa, referente a rendimento, confunde-se com respectivamente com as classes capitalista, pequena burguesia e operariado. Classe alta, média ou baixa, são na verdade estratos sociais.

Vimos que para Marx, as classes principais no mundo contemporâneo são o operariado e os burgueses. Estas classes são as principais porque estão em contradição na produção da sobrevivência da sociedade. Mas quais as especificidades destas classes em relação a outras classes dominantes e dominadas da história? Primeiro porque fazem parte de um sistema econômico chamado capitalismo. Tanto a classe capitalista (burguesa) quanto o operariado (proletariado) surgem com o próprio surgimento da sociedade industrial capitalista.

A burguesia é conhecida como capitalista porque é detentora do capital. Capital é tudo aquilo que pode ser usado na produção ou em qualquer outro investimento visando um aumento do próprio capital. Pode ser na forma de dinheiro ou na forma de bens. Mas nem todos os bens ou dinheiro são capitais. Um dinheiro guardado na poupança, por exemplo, não é capital, pois está apenas “mantendo seu valor”. Uma casa, um carro ou mesmo terras, se forem para uso próprio, por mais valorosos que sejam, também não são capital. Já um aparelho de barba, usado por um barbeiro, pode ser entendido como um capital. Uma fortuna, usada para ser aplicada na compra de mercadorias ou máquinas visando a construção de uma fábrica ou um mercado também pode ser considerado capital. Essa é a especificidade da burguesia em relação a outras classes dominantes que existiram ao logo da história, pois enquanto as demais se preocupavam apenas e acumular bens através da conquista ou do comércio, ela pretende acumular bens por meio da produção e do uso de capitais. A nobreza, por exemplo, aumentava seus bens pela conquista de territórios e bens de inimigos.

A classe operária também tem sua especificidade em relação às demais classes dominadas da história. Primeiro porque, ao contrário de um escravo ou de um servo, ela é não é propriedade de um senhor e tem a relativa possibilidade de trocar de patrão. Mas a forma de ser explorada também tem uma especificidade. Para entender melhor como ocorre a exploração do operariado, é necessário entender como ocorre a produção de uma mercadoria no sistema capitalista.

Mercadoria é tudo aquilo que pode ser vendido ou trocado. Todas possuem um determinado valor. Para Marx, há dois tipos de valor que influenciam na produção de uma mercadoria: valor de uso e valor de troca. Valor de uso corresponde à capacidade de usarmos determinado objeto. O ar por, exemplo, possui alto valor de uso. Valor de troca se refere à equivalência de objetos para uma troca. O valor de troca é estabelecido pela quantidade de tempo de trabalho empregado para fabricar de terminado produto. Por exemplo, se um caderno levou duas horas para ser produzido, pode ser trocado por uma fita de vídeo que levou também duas horas para ser produzida. Dessa forma é o trabalho que agrega valor de troca aos objetos. Vejamos, uma madeira possui determinado valor de troca ou determinado preço no mercado. Pode ser trocada por outro tipo de madeira, mas não pode ser trocada por uma cadeira ou uma mesa. Acontece que o valor da cadeira ou da mesa é mais alto que a madeira. Alguém transformou a madeira em cadeira ou mesa, ou seja, um trabalhador colocou horas de trabalho na madeira, transformando-a em outro objeto.

O capitalista industrial, dono dos instrumentos de produção (máquinas e ferramentas) é dono também da matéria prima, que ele compra por determinado valor, no caso, a madeira. Mas a cadeira não é vendida pelo mesmo preço da madeira. Ocorre que os operários agregaram valor, através do trabalho, para a matéria-prima pertencente ao industrial.

O que seria o pagamento do operário? Bem, a capacidade de trabalho também é vendida, ou seja, o trabalhador vende suas horas de trabalho ao capitalista, transformando sua capacidade de trabalho em mercadoria. O salário paga então a produção da capacidade de trabalho, ou seja, tudo o que o operário precisa para manter-se vivo: comida, moradia e roupa. Entretanto, se o operário trabalhasse com seus próprios instrumentos, trabalharia menos pelo mesmo rendimento. Digamos que um operário trabalhe oito horas em uma fábrica. O tempo necessário de trabalho para a produção de sua sobrevivência seria de apenas quatro. O valor criado pelo trabalho excedente que fica para o patrão chama-se mais-valia. Um exemplo: um artesão precisaria de duas horas por dia para fazer uma cadeira cuja a venda lhe garantisse a compra de comida diária. Mas se esse artesão perdesse seus instrumentos de trabalho, teria que procurar emprego em uma fábrica de móveis. Lá, trabalhando oito horas por dia, seu salário lhe permitiria comprar a mesma quantidade de comida. As seis horas extras, fabricando cadeiras, adicionando valor na madeira, seriam do patrão. Essas horas a mais, convertidas em valor, seriam a mais-valia. É o operário, portanto, o criador de valor em uma mercadoria.

1Antagonismo quer dizer contraditório.

2É importante lembrar que na época de Marx, século XIX, o setor econômico principal era o industrial. Hoje, alguns economistas afirmam que o setor financeiro se tornou mais importante que o industrial.

3Proletariado vem de prole, filho. Eram as classes com menos rendimentos que faziam mais filhos – para coloca-los em trabalho nas fábricas.

4Marxista é aquele que concorda com o pensamento de Marx.