Pequena nota sobre educação e tecnologia

Pequena nota sobre educação e tecnologia

Alexandre Lobo – Prof. Dr em Literatura Brasileira pela UFRGS

No atual discurso sobre a educação, o advento da informática é apresentado como um milagroso instrumento na relação ensino aprendizagem capaz de fazer com que todos aprendam qualquer tipo de conteúdo. Muitas vezes é o professor, com sua carência tecnológica, que é apresentado como um obstáculo as novas, revolucionárias e eficazes pedagogias. Porém, é pertinente levantar alguns questionamentos, como por exemplo a distribuição desigual tanto de equipamentos quanto de saber técnico a respeito da tecnologia.

Boa parte desse discurso redentor pauta-se na diferença entre a geração do aluno e a do professor em relação ao habito do uso de computadores pessoais. Entretanto, as gerações mais novas de professores já nasceram com a popularização do uso do computador pessoal para tarefes como escrever textos, muitos tiveram uma adolescência familiarizada com jogos eletrônicos.

A tecnologia está em movimento, o significado prático de um computador pessoal nos anos 90 não é mais o mesmo. Infelizmente, dentro de uma sociedade de consumo, onde o imperativo é consumir, consumimos, portanto existimos, um aparelho nem bem foi explorado por seus recurso já é substituído por outro. Nos anos 90 um computador pessoal tinha a função de basicamente de servir como instrumento de trabalho e de entretenimento por meio dos jogos eletrônicos, concorrendo com os chamados consoles. No meio acadêmico das humanas, era mais uma máquina de escrever. Nos anos 2002, com o desenvolvimento da internet e das redes sociais, ele popularizou-se como instrumento “relacionamento virtual”. Contudo, mais recentemente, o aparelho entendido como computador passou a concorrer com os smartphones e os tablets. Esses aparelhos hoje, de dimensões reduzidas, tem mais capacidades, tanto de processamento quanto de armazenamento, que os computadores pessoais do início dos anos 2000. E estão muito popularizados. Desktops ou mesmo noteboocs têm maior serventia para textos longos.

De certa forma, a informática transformou-se, não apenas na forma, mas também na função. Entretanto, ao desenvolver-se também em funções, passou a exigir menos qualificação e menos empregados, principalmente nos supermercados. Sem falar nos caixas eletrônicos que tirou o emprego de bancários, nos super, a figura do demarcador de preços cedeu lugar para os códigos de barra. No caixa, a funcionária não necessita mais conhecer o que seria básico em sua função, a matemática.

Há um crescente processo de alienação quanto a própria produção da informática, tanto em termos de máquina quanto de programa, pois hoje o usuário só necessita “ler” a tela, que, por ícones, é autoexplicativa. O usuário cada vez mais sabe menos o que está fazendo, e também, cada vez mais fica dependendo de determinados programas visuais - a disposição dos ícones e barra de tarefas. Outra forma de alienação ocorre com perda da noção da concretude de seu trabalho, não sabe que os dados produzidos na máquina ficam armazenados em um disco rígido, que hoje pode estar até mesmo em outro país, comprometendo a privacidade

No discurso midiático sobre educação há também o problema da múltipla tarefa. Trata-se do que alguns autores chamam de geração “y”, a geração digital. É uma geração que se contrapõe a sua antecessora por ser “multifuncional”, por ser capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo, como ver televisão, conectar-se nas redes sociais e fazer o dever escolar. Esse é um argumento usado para a mudança na forma de educação. De certa forma é uma visão equivocada. Primeiro por que a popularização da informática não ocorre da mesma forma em todas as classes sociais e se relaciona também com a questão da propagação do saber técnico, além da questão da possibilidade de adquisição de equipamentos. Além disto, a “multifuncionalidade” não é garantia de aprendizagem, pode-se fazer várias tarefas sem realmente estar atento a elas. Escutamos hoje, mais do que a uns vinte anos, termos como deficit de atenção e analfabetismo funcional.

O problema é entender o meio com o fim, como se a tecnologia, per si, resolvesse o problema do aprendizado de determinado conteúdo. Essa questão seria evidenciada pela distância “tecnológica” professor/aluno. Porém, já em 2015, tempos professores formados nessa divulgação informática. E a relação ensino/aprendizagem pode ter mudado a forma, mas não mudou o problema, não há nenhuma comprovação de crescimento no rendimento escolar como resultado do uso de tablets ou celulares. O problema não é o uso em si, mas de como é usado - e isso pode ser aplicado até mesmo ao antigo giz.

Nos Estados Unidos, com a popularização da informática, o professor, cada vez mais, torne-se controlado ao receber um kit já formatado com os conteúdos já escolhidos. A falta de conhecimento técnico do professor o separa desse produto - um ebook, um sitio, uma apresentação, ou um vídeo, por exemplo.

Uma aula industrializada deixa de ser produto de um professor proletarizado. Não se trata de sermos novos ludistas, mas sim de que tenhamos consciência de que as facilidades da informática não são o paraíso sem preço que a mídia nos tenta vender.