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A educação e o Zeppelin

 

A Educação e o Zeppelin

Alexandre Lobo1

Que a educação é fundamental para o desenvolvimento social e econômico de um país ninguém tem dúvida. Engenheiros, advogados, médicos, todos passaram por bancos escolares e tiveram professores que os auxiliaram em suas formações. Sem estes profissionais é impossível um país se desenvolver. O problema é que entre essa visão abstrata de educação como necessária e a importância dada a ela na prática há uma grande distância.

Por vezes, é esquecido que educação é um conjunto de relações e fatores que envolvem pais, alunos, professores e também governo, são políticas públicas que definem como ela deva funcionar. E ai inicia-se a subestimação e desprezo por essa atividade tão necessária. Na visão dos governos, a educação é algo que dá pra qualquer um? As escolas se enchem de professores contratados, muitos ainda não concluintes de uma graduação. E o que é pior, atuando em sala de aula em área diferente de sua formação. Professores de história trabalhando com sociologia, filosofia ou geografia, profissionais de física com química, biologia ou matemática e assim vai. É só na educação que isso acontece. Quantos estudantes de direito trabalham como advogado ou contador? E estudantes de medicina estão habilitados a medicarem? E um estudante do segundo semestre de engenharia civil pode assinar um projeto para um prédio de mais de 20 andares?

O cotidiano na sociedade é repleto de violências de diversos tipos. E a culpa é da escola, dos professores que não cumprem seus papeis direito. É assim que pensa parte da comunidade escolar. Os pais ficam longe dos filhos, tornam-se permissíveis e os meios de comunicação em massa banalizam a violência com seus enlatados e noticiários sensacionalistas.

É comum alunos e pais reclamarem que a escola pública é de péssima qualidade. Mas muitas vezes não se lembram que todos a compõe. Alunos e pais que querem facilidades são também responsáveis pela queda da qualidade de ensino. Aquele que cola, e depois não aprende, não pode culpar seus mestres. O problema é que colar faz parte do jeitinho brasileiro de dar um jeito. Os pais dão um jeito no trânsito que adoram acusá-lo de infernal.

Agora é moda a ideia da escola empresa, como se educação tivesse que dar lucro. Lucro para quem? Ao mesmo tempo, o governo acha que o professor não deve evoluir intelectualmente, basta que ele saiba o que fazer com o giz e o quadro negro para poder estar em sala de aula. Qual é a empresa que prospera sem querer ter os melhores e mais qualificados profissionais? Como foi mesmo que a tecnologia se desenvolveu no Japão? Com estudantes sem base? Como o nome já diz, a educação básica é a base, se não aprender ali, dificilmente aprenderá depois. E se o professor não se comprometeu com sua própria formação, se não se interessa em evoluir intelectualmente, o que terá a ensinar?

1Professor de História e Filosofia no Colégio Estadual Miguel Lampert e doutorando em Literatura Brasileira, UFRGS